Thursday, August 07, 2025

Fala do livro do Newton Carvalho.

Excelentíssimas senhoras e senhores

 

          Infelizmente não obtive a sagrada bênção de Deus para estar presente neste recinto da arte e da cultura da nossa querida capital da amizade Gurupi para ter a honra de participar convosco da exposição desse livro que hoje chega às nossas mãos. Por tanto, aqui vos trago minhas palavras ternas para que minha ausência não seja completa. Há certos percalços na vida que nos impedem a realização daquilo que planejamos, como bem diz a sabedoria do provérbio O FUTURO A DEUS PERTENCE, ou seja, planejamos algo, mas Deus é quem nos permite realizá-lo. Assim lamento pela minha ausência, mas com certeza estaremos juntos em em pensamento.

          A publicação de um livro é um feito que merece destaque e no caso dessa pequena obra devemos recebê-la com jubilo, tanto pelo seu conteúdo quanto pela sua forma e profundidade de imaginaçao. É um livro que nos faz retornar a um passado não muito distante de um Brasil rural em que a vida era mais idílica e harmoniosa, o sertão era mais colorido, assim como o sertão de que fala nosso grande poeta Catulo da Paixão Cearense.

          Quando fui convidado para prefaciar esse livro confesso que não me sentia com autoridade para falar de poesia porque a poesia é de todas as artes a mais exigente, eu ainda não conhecia a obra, era algo novo para mim e pela primeira vez eu teria de apresentar uma obra ao público, o que me deixava indeciso porque na minha opinião só um poeta poderia dar o seu crivo sobre poesia. Certa vez o poeta Alphonse de Lamartine falando sobre o poeta Lorde Byron, ele disse: EU NUNCA TINHA LIDO BYRON, MAS BASTARAM ME ALGUMAS GOTAS PARA ENTENDER UM OCEANO, para mim, ao ler os primeiros versos do Newton Carvalho foi o suficiente para entender a grandeza do poeta e a beleza de sua poesia, o que me deixou envaidecido em fazer a apresentação do livro. Sua poesia é única, é a poesia de um escritor que viveu o sertão em sua juventude e o viveu intensamente, cantando sua terra natal assim como Virgílio cantava em suas Éclogas a maravilhosa terra de Mântua. No contexto de sua poesia, o sentimento é profundo, o amor é puro e a harmonia dos seus versos é música para os ouvidos do leitor, até mesmo para aquele leitor menos iniciado em poesia, é impossível não se emocionar com a riqueza de sentimentos e detalhes apresentados em todos os poemas da obra.

          Bom mesmo seria ter o poeta entre nós, mas infelizmente ele seguiu todos aqueles poetas que não conseguiram ver os seus versos publicados, falecendo no auge dos seus 45 anos de idade. Mas seus escritos ficaram para imortalizá-lo e encantar os seus leitores, e não tenho dúvidas de que o público o acolherá com o devido carinho que lhe é merecido. Esse livro a meu ver é a amostra do sertão brasileiro que existiu numa esfera romântica que foi deixada pelo homem com as mudanças sociais que sem perceber vão sendo abandonadas porque o progresso como diriam os poetas românticos no século XIX, vai tirando do homem o mais belo dos sentimentos, o Amor, esse vai sendo substituído pelo dinheiro. Alvares de Azevedo em um dos dias mais tristes de sua mocidade, fugindo do dito progresso, expressou em um dos seus poemas que era doce fugir da realidade vivendo a poesia no seu próprio eu para escapar da dura realidade que ora enfrentava a sociedade daquele tempo. Eu perderia tempo aqui mencionando nessa obra tantas semelhanças com demais autores, mas não quero aqui entediar aqueles que certamente anseiam em deleitar-se com a leitura da obra.

          E como não temos conosco o poeta, ouso aqui falar por ele tomando como empréstimo as palavras de Ovidio, o grande poeta lírico romano que no exilio escreveu seu livro Tristes, ele o introduziu dizendo: Parue—nec inuideo—sine me, liber, ibis in urbem: ei mihi, quod domino non licet ire tuo! vade, sed incultus, qualem decet exulis esse;(Va, oh meu livrinho, vá a Roma sem o teu dono, pois ele não é permitido ir até lá, vá mesmo sem as últimas correções). Assim direi aqui, vá livrinho, sem o teu dono, chegue às mãos do publico leitor e glorifique o nome do teu autor. Que a obra tenha a grande aceitação do público e viva para sempre, assim o queira Deus.

Um abraço,

Martins Caminha

 

Montréal, VII-VIII-MMXXV.

         

                 

         

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