Sunday, October 08, 2017

Retorno à inocencia

          Falar de poesia nao é uma tarefa fácil, somente um poeta tem autoridade pródiga e moral para tal incumbência, até mesmo grandes mestres da prosa não se atrevem a tao nobre fardo. Certa vez o poeta dos escravos se deslocou da Bahia e foi até o Rio de Janeiro para ler o seu drama Gonzaga ao escritor José de Alencar. Ali, nos cerros da Tijuca no retiro de pensador do príncipe das letras brasileiras, como dizia Castro Alves, Alencar ouviu atentamente a leitura do texto daquele jovem e sem balbuciar uma palavra, pois não encontrava os termos corretos para dar o seu censo critico sobre a obra. Apenas viu que ali, diante dele estava um grande poeta ainda na flor da idade, que se inspirava no poeta Victor Hugo, e sem mais rodeios disse ao moço que ele não era a pessoa certa para  criticar a obra ou emitir qualquer opinião a respeito, mas que ele o encaminharia a alguém capaz de orienta-lo e dar o verdadeiro censo critico sobre o Drama em questão. Encaminhou-o ao decano da prosa brasileira, o jovem Machado de Assis, recomendado-o que guiasse aquele moço, dizendo que os versos do jovem precisavam ser lapidados por um mestre da poesia e que ele seria a pessoa mais qualificada para tal façanha. Alencar disse: - seja o Virgilio do jovem Dante, pois ele (Alencar) não tinha a qualificação para essa tarefa por ele não ser poeta.
          Pois bem, eu nao sou poeta, apenas um mero e fraco contista que gosta de ensaiar estórias e as vezes fraquíssimos versos, um apreciador das musas e admirador dos poetas, esses seres especiais que têm a prodigalidade soberba de cantar e encantar a alma das criaturas, até mesmo as menos sensiveis. Os poetas são almas grandiosas que se distinguem dos outros seres, como bem dizia Enio na velha Roma ainda intacta da prostituição dos Césares, (O poeta é um ser sagrado) pois ele ja nasce feito, e mais adiante Cicero afirma na tribuna pretoriana de Roma, dizendo que todas as profissões requerem um mestre para orientar o discípulo na hora do seu aprendizado, mas na poesia isso não é necessário porque o poeta ja nasce poeta, ele apenas aperfeiçoa os seus versos com o passar do tempo; à medida que vai lendo seus autores prediletos no decorrer da sua maturidade como escritor, até aproximar-se da perfeição.
          Ser poeta é cantar, é louvar, é criticar e soltar a imaginação para tocar a alma do ser humano através da sensibilidade dos seus versos. Se Pan encantava a todos com sua flauta, o poeta hipnotiza a todos com seus cantos em versos, sensibilizando até os corações mais duros com as notas suaves da poesia.
          É com grande alegria que falo aqui de um poeta ainda desconhecido do Brasil, mas que em breve todo o pais o conhecera, seu livro RETORNO À INOCÊNCIA reune a meu ver o que ha de melhor na poesia brasileira da atualidade. Mesmo não sendo um critico literário, ouso dizer que a poesia do senhor Donato Leite, que estará em breve a circular pelas livrarias de todo o Brasil é um verdadeiro canto que merece o aplauso do publico e certamente o terá. Seus versos vão da ingenuidade da adolescência (que são seus primeiros poemas) ao escarnecimento das nulidades da sociedade hipócrita em que vivemos.  Ele cultiva os gêneros literários lírico amoroso e a sátira, quando faz criticas às vilezas de uma sociedade injusta. O poeta apresenta em sua obra influencias dos mais variados autores, como: Fernando Pessoa, José Régio, Drumond, Manuel Bandeira, autores que o conduziram ao aperfeiçoamento e ao amadurecimento de sua produção literária. Em sua poesia, encontramos o verso branco ainda na introdução dos seus primeiros poemas, ainda quase adolescente, o que bem justifica as leituras dos autores mencionados acima. É um período de inquietação moral diante dos problemas sociais que infelizmente grassam a sociedade dos nossos dias. Mas sua poesia sofreu uma certa modificação ao longo do tempo, como a forma de estruturar seus versos, introduzindo a rima e o verso decassílabo, tendo a beleza da musicalidade e a nobre influência de poetas como: Camões, Bilac, Paul Verlaine e outros que tinham como tema a musica em seus versos; sem esconder o toque simbolista quando escreve de forma enigmática, sugerindo do leitor um certo raciocínio para uma verdadeira reflexão à compreensão da obra e descobrir as imagens nela contidas.
          O poeta nao esconde também influências de Alvares de Azevedo quando a angustia, o amor, a paixão  e o desespero diante do mundo são apresentados de forma individualista, o que fazem do poeta um escritor diferenciado da geração vigente; sem deixar de mencionar que ha também certas influências de Gonçalves Dias quando nas ultimas produções o escritor trabalha elementos das outras culturas advindas da Africa. Mas o poeta mesmo sofrendo múltiplas influências também não deixa de ser original quando faz uso de termos linguisticos não utilizados por outros escritores até então. Donato Leite não priorizou um lugar ou um ser, sua poesia é universal, abrangendo assim todos os elementos da cultura brasileira e tudo que sua musa fôra capaz de inspirar.
Vejo que a musa do senhor Donato Leite terá um inicio promissor na vida literária, cabendo ao leitor critico e sincero dar-lhe o destino final, o qual não me deixa duvidas de que sera promissor; que o universo criado pelo poeta vivera para sempre.

Thursday, July 27, 2017

Relatos sobre a vida da senhora Maria Ferreira de Melo (Vo Birica)

Relatos sobre a vida da senhora Maria Ferreira de Melo (Vo Birica)

Lembro-me de ver escrito na cruz de minha avo na visita de sétimo dia do seu falecimento que sua data de nascimento fora em 1884, mas ha controvérsias, mesmo tendo a memória privilegiada na minha infância não me foi possível saber ao certo porque nem mesmo nossa avo sabia. Mesmo não sabendo ler, Birica era a sabedoria em pessoa, planejava o futuro dos netos. Muitas vezes eu a vi dizer aos seus filhos que não deixassem de colocar os filhos na escola, pois ela sonhava com dias melhores para seus descendentes. Carinhosa, meiga e severa quando precisava, era um símbolo de respeito. Ninguém ousava levantar a voz para ela, os vizinhos tinham verdadeira veneração por nossa vozinha. 
Seu nome era Maria Ferreira de Melo e casou com nosso avô, o senhor Nicolau Martins Caminha, casaram no estado do Piauí e moraram em Parnagua. Birica ao que se sabe, teve apenas um irmão, o senhor José de Melo que fundou o outro ramo da família Melo naquela cidade. José de Melo teve três filhos, Cristovam, Astério e Lizarda. Seus descendentes estão espalhados nos Estados do Piauí, Brasilia e Sao Paulo, muitos são professores e outros advogados.
De nosso avô eu nada sei, ainda telefonei para o primo Aldenor, como neto mais velho de vovó, mas ele também não conheceu nosso avô, disse apenas que o vô Nicolau era irmão do pai do tio Eloi, marido da tia Eleuzina, fato esse que eu mesmo desconhecia.
Birica contava que apesar das dificuldades no Piauí ela e nosso avô tinham uma vida tranquila, uma fazendinha e gados para o sustento da família bem numerosa. Vo teve oito filhos, os quais eu nomearei no final do texto. 
Tia Amanda nos relatou uma vez que vovo havia tido quase uma separação do nosso avo por causa de comentários maldosos da vizinhança, mas depois vovó voltou atras e considerou a importância do seu casamento. Depois quando falavam para ela que viam nosso avô com outra  mulher, vovó respondia: Deixem, se elas o procuram é sinal que eu tenho bom gosto. Olhem ai a sabedoria viva de nossa linda vovó. 
Recordo que na semana santa de 1971, todos reunidos na Baixa Verde, nossa matriarca disse: Tenho 50 netos, sou muito feliz. Na verdade, diziam ser cinquenta, mas contabilizando agora vejo que eram 49.
Mas voltando ao Piauí, Nossa avo me contou uma vez no ano de 1971, era época de natal, não tinha presentes, apenas a paz e a união de nossa família. Estávamos à beira do fogo, eu, vovó e Adinha, e caia uma chuva bem forte, daquelas que caem suavemente sobre as casas de palha que nos fazem dormir como anjos. Comecei a perguntar a vovó como ela tinha chegado à Baixa Verde e ela narrou a seguinte historia:
Meu filho, eu morava em Parnagua, mas em 1932 ouve uma seca muito grande, a pior que se tinha visto até então, foi ai que tomamos a decisão de mudar para o Maranhão. Vendemos tudo e fomos embora para não passar fome. Anos mais tarde tio Batu me contava dessa seca que ele disse nunca ter visto nada igual. Que a família perdeu muitas coisas porque vendiam tudo a preço de banana para fugir da seca que assolava a região. Mas segundo relato de meu pai, Raimundo Gabi, quando nossos avos mudaram de Parnagua, vovô vendeu muita coisa fiado para depois voltar la para receber, mas nosso avô Nicolau faleceu pouco tempo depois sem voltar para receber as dividas, e como tudo era difícil, nossa avo chamou o tio Riquinho ainda adolescente e juntos foram ao Piaui para receber a divida. Chegando à terra natal, o devedor alegou que não devia nada para vovó, mas um homem importante da cidade disse ao homem que ele tinha de pagar senão ele ia fazer valer os direitos de vovó, e imediatamente o homem pagou a divida sem reclamar. Pelo que se via, e mesmo quando eu estive no Piaui, percebi que o outro ramo da familia Melo tinha mesmo e ainda tem uma grande importância naquela cidade.   
Em minhas curiosidades me lembro de uma passagem quando perguntei para vovó sobre o primeiro avião e o primeiro carro que ela tinha visto, do carro ela não respondeu, mas  ela contou que o primeiro avião que sobrevoou a região do Piauí deixou todo mundo apavorado, com muito medo, pois ninguém sabia ainda que maquina voadora era aquela. Muitos achavam até que fosse o fim do mundo, algumas mulheres chegavam até confessar seus pecados de traições aos seus maridos. Eu viajava nessas historias, guardando na memória essas passagens sem nunca pensar que um dia fosse narra-las aos mais jovens descendentes de nossa vovó.
Anos mais tarde, morando no Maranhão, ela tomou a decisão de mudar para o Goiás, mais influenciada pelo tio Luizinho que tinha feito uma viagem a cavalo, do Maranhão para o Goiás, acompanhado do seu amigo Valter, irmão de mãe Vanja, ambos ficaram um ano no estado de Goiás, foram até Ceres e Rialmas, no sul de Goiás  creio que trabalhando em garimpos lavouras, e quando retornaram ao Maranhão, passando por Ponte Alta, o tio Luizinho esteve com Florêncio Turibio, e com ele combinou muita coisa. Florêncio o ajudou a conseguir terra para comprar, algumas cabeças de gado e em seguida partiu rumo a casa de nossa avo. O filho caçula de Birica levou consigo a idéia de mudar para o Goiás. Vovó não se intimidou e decidiu acatar a idéia do filho,  logo todos estava de acordo com a mudança. Tio Luizinho se casou e mudou primeiro, para ser vaqueiro na Mata Grande e se preparar para receber a leva de irmãos e sobrinhos que iriam chegar à terra prometida. Com o tio Luizinho foi também o tio Riquinho que em seguida voltou para buscar vovó e o restante da família.
Segundo relatos do primo José, tio Luizinho mudou em 1955, tio Batu em 1956 e em 1957 a matriarca desembarcava na região de Ponte Alta com o restante da sua prole. Mas antes ela enfrentou um impasse, ela não queria deixar um so de seus filhos naquela região pobre e atrasada do Maranhão, que apesar de ter um nome bonito (Boa fé), tudo era atrasado. Birica teve de convencer o meu pai (porque ele não queria viajar) a lhes acompanhar, e  ainda segundo o José nos últimos dias que antecedia a viagem, juntaram vovó, tio Riquinho, Moreninha e pai Antônio. Juntos conseguiram convencê-lo a viajar. E em 12 de outubro de 1957 partiram rumo ao Ponte Alta, levando consigo a esperança de uma vida nova e mais digna.
Era o inicio de uma nova era para aquela família que aumentava a cada dia. Segundo os primos Jesilia e José, a viagem do Maranhão até Ponte Alta fora feita em lombo de jumentos porque não possuíam cavalos. Algumas mulheres e crianças pequenas iam montadas no meio da carga e os homens iam a pé. Vovó e mãe Vanja iam montadas, vovó devido a idade, e mãe Vanja devido um problema na perna. Ao chegarem no rio Sono a travessia era feita de canoa, sem remo, os homens nadavam e empurravam as canoas carregadas com os apetrechos da mudança e  as pessoas que não sabiam nadar. Imaginem essa cena, nenhuma foto tirou porque não havia esse recurso na época, mas seria um documento riquíssimo para mostrarmos aos nossos sobrinhos como nossos pais e tios sofreram e faziam isso com a maior boa vontade e amor. 
Nas familias sempre usam a tradição de homenagear os pais nominando os netos com os nomes dos avos, sei que vovó foi bem homenageada, mas nosso avô teve apenas um neto levando o seu nome, homenageado pelo tio Luizinho chamando seu segundo filho de Nicolau.
Em conversa com a prima Amanda, ela me fez lembrar de quando brincávamos com a pele macia do braço de vovó, e quando as vezes ela sentia cocegas pedia para parar, era gostoso brincar com a pele caída dos seus braços branquinhos e bem envelhecidos.
Outra vez, eu tinha oito anos, passando uma temporada na casa dela, um certo dia peguei o óculos dela e torci, separei as duas  lentes do óculos, mas para ela não pensar nada, juntei as duas partes e coloquei como se estivessem emendadas, quando ela viu veio para cima de mim querendo saber se tinha sido eu, num átimo eu disse que não, neguei fortemente e disse que tinha sido Zé de mãe Vanja,mas ela não acreditou e brigou demais comigo, falou muita coisa, mas em seguida ja estava me tratando com carinho. 
Durante seu tempo de viuva, passou a caducar os netos e fazer renda, ela usava os bilros amarrados com linhas para tecer a renda, era um trabalho manual muito bonito que ela fazia sem reclamar, era uma espécie de passatempo. 
Nossa avo soube espalhar o amor entre seus filhos e os netos que a conheceram. Na semana santa todos nos íamos para a Baixa Verde, chegávamos la na quarta feira santa, tio Riquinho com sua prole, tio Luizinho com seus filhos e mãe com todas as suas crias, tudo era festa, tudo era maravilhoso. Me lembro que bem antes da semana santa pisavam o arroz para não fazer isso durante os três dias santos. Durante os três dias pisavam apenas o coco para fazer o leite para o almoço, o qual era servido no chão, sobre um couro de boi que ficava extendido e forrado com uma toalha. Lembro-me que na semana santa Pai Antônio liberava as limas, todos poderiam chupar limas, menos as laranjas porque ainda estavam verdinhas, e enquanto os adultos jejuavam os meninos ficavam chupando lima às escondidas, que lembranças maravilhosas queridos primos! Eram dias maravilhosos aqueles, sem poder chorar, nem gritar porque os pais não nos batiam naqueles dias, mas tinha a promessa para o sábado de aleluia, imaginem se não derramei nenhuma lagrima para falar dessas memórias.
Os meninos comiam as vezes até quatro numa mesma vasilha se a vasilha fosse uma bacia grande porque não tinha prato suficiente, e muitas mulheres comiam com a mão porque faltava colher. Ficávamos todos na casa de pai Antonio porque a casa era bem grande, sem contar o amor incondicional dele e mãe Vanja que cercavam todo mundo com um carinho que nunca vi. Ah meus tios queridos, como ja derramei lagrimas lembrando de vocês! Como vocês marcaram a infância de cada um de seus sobrinhos que conviveu com vocês! Minha vo, que criatura mais doce e amável! Quantas vezes eu a incomodei com minhas traquinagens de menino travesso! Fora os filhos de mãe Vanja porque moravam praticamente com nossa avo e Mariazinha que foi criada por ela, os netos que mais conviveram com ela foram eu, Zé Augusto e Manoel, la fazíamos a festa, tínhamos liberdade demais, eu livre de apanhar do meu pai, Augusto e Manoel livres do cipo da tia Mundiça que quando pegava não alisava, e assim era a infância desses meninos, que apesar de pobres eramos todos felizes.
Na semana santa, vo clamava da ausência dos filhos e dos netos, como Tio Raimundo, tia Eleuzina e tio Batu com seus respectivos filhos, esses eram os que faltavam porque moravam longe, mas me lembro de vo clamar por não ver esses filhos e os netos.
Uma vez, era dezembro de 1970, chegaram das escolas para as férias, Maria de Fatima, Isabel, Socorro e Mariazinha, tendo por companhia a prima Altair que tinha ido com tio Batu para ficar uns tempos com vovó. Fatima chegou cantando uma musica que aprendera na escola, creio que com as amigas, talvez vocês lembrem da musica, vou escrever um refrão que dizia assim;
*Minha filha, sua idade não permite amor,
A senhora mãezinha com dez anos se casou…
Papai não pode falar, pois ele também amou,
papai não pode falar, pois ele também amou.*
Desculpem, não me lembro bem a musica, mas isso era uma tardinha de sol e as meninas gostavam de cantar e animavam o espirito de nossa avo. 
Quando elas estavam cantando, vo chegou e ficou olhando, e disse: que alegria a de vocês longe da escola, que felicidade! e todas elas conversando e comentando o tempo que passaram na escola. Ao lado de vovó, chegou também mãe Maria que estava feliz com o retorno das filhas, e assim a casa de Birica ficava bem animada. 
Mas no meio de tanta felicidade prenunciava o inicio de tantas tristezas na nossa bela família, primeiro nossa avo sofreu a perda de seu filho mais velho, o tio Raimundo, ainda novo, nos seus 54 anos de vida, ainda me lembro de vovó guardar num bau grande que ela tinha, uma calça  dele, ela dizia que era para para lembrar sempre do filho.  Os netos chegavam em bom numero, as vezes três netos ao ano para alegrar o coração de nossa matriarca. Seis anos depois foi outro golpe para ela, ja no declínio de sua existência, com quase noventa anos perdeu seu filho caçula;   lembro-me que no dia 13 de julho de 1971, era noitinha, eu vi nossa avo chorando pela primeira vez pela morte do tio Luizinho, ainda novo no vigor das suas forças aos 43 anos de idade, vovó chorava e clamava dizendo POR QUE MEU FILHO E NAO EU? Era uma tristeza profunda nos olhos de todo mundo, dois anos depois ela amargava outra perda, a morte de pai Antônio, aquele tio que não era tio, mas o segundo pai de todos os seus sobrinhos que até hoje carinhosamente o chamamos de pai.
Assim foi a odisséia de nossa família até o falecimento de vovó em 02 de janeiro de 1976. Com a morte de vovó as nossas reuniões da semana santa deixaram de existir, e so agora nesse encontro a família se reune ainda que sem a presença física dos patriarcas, mas ainda permanecemos unidos pelos laços do amor e da amizade, pelos exemplos que Birica e seus filhos nos legaram. 
Eis os nomes dos filhos de vovó, os nossos pais.
Raimundo Martins de Melo, nascido em 16 de fevereiro de 1911. Casou com a tia Filomena tiveram  três filhos, Domingos, José e Maria.
Sebastião Martins de Melo, (Batu) nasceu em 20 de janeiro de 1913,  casou com a tia Isidora com a qual teve os seguintes filhos: Evilasio, Jesilia, Nilson, Maria de Jesus e Isidora.  Ficando viuvo, casou-se com a tia Raimunda e tiveram os seguintes filhos: Cicero, Jesualdo, Manoel e Isonete.
Eleuzina Martins de Melo, nascida em 24 de junho de 1914. Casou com seu primo primeiro, o tio Eloi, tiveram cinco filhos: Aldenor, Josué, Benedita, Antonio (Totonho) e Altair.
Antônio Martins de Melo (Pai Antônio) nascido em 04 de abril de 1916. Casou com Evangelina, (Mae Vanja), tiveram seis filhos: Socorro, Joao, José, Manoel, Gracinha e Antônia.
Ana Joaquina (Adinha/Moreninha) nascida em 02 de maio de 1920. Não teve filhos.
Odorico Martins de Melo (Riquinho) nascido em 01 de janeiro de 1923. Casou com a tia Maria Turibio, tiveram sete filhos; Fatima, Isabel, Maria Lucia, Zulmar, Luzimar, Antonio e Domingas.
Luiz Martins de Melo (Luizinho) nasceu em 25 de agosto de 1928, casou com a tia Raimunda Galvao, (Mundica), tiveram dez filhos. Jeferson, Nicolau, Luiz Antônio, José Augusto, Angélica, Manoel, Amanda, Sebastião, Luiz Carlos e Imelda.
Lidia Martins de Melo nascida em 16 de fevereiro de 1931. Casou com Raimundo Oliveira, tiveram nove filhos; Maria, Ernestina, Gislene, Eva, Adao, Lucimar, Adenauer, Alexandrina e Anibal. 

Mais uma curiosidade sobre vovó, me lembro dela contar que quando estava gravida de minha mae, ela morria de vergonha porque ja tinha dois filhos homens feitos, tio Raimundo e tio Batu, com tia Eleuzina ja moça, ela ja com 47 anos de idade e com aquela barriga. No dia que o tio Raimundo completou vinte anos minha mãe nasceu.

Curiosidade dos nossos tios:

Meu pai me contou varias vezes essa historia, que o tio Raimundo foi visitar Birica, chegando na Baixa Verde o seu cavalo morreu e ele se desesperou com medo de ter de voltar a pé para Rio Sono ou Pé da Serra como chamavam o lugar onde ele morava. Tio Luizinho foi ao campo, pegou um cavalo e deu para o irmão, o tio Raimundo disse: Mas Luizinho, quando vou te devolver o cavalo? O caçula de Birica respondeu: E quem disse que você vai me devolver o cavalo? O animal é seu. Olha que gesto familiar! Sao nesses exemplos que devemos nos inspirar. Quando vejo Jeferson ajudar tantas pessoas, me lembro desse exemplo de seu pai, é isso ai primo, você venceu ainda que nos deixasse chorando no Buritizinho naquela manha de julho de 1975 quando você levava seus irmãos para Brasilia em busca do futuro de cada um deles e do seu proprio futuro. Deus estava contigo e sempre estará.

Meu pai contava que entre os filhos de vovó não havia individualismo, quando um deles ia pegar um cavalo no mato, não importava se era o dele ou do irmão, pegava sem pedir, selava e  saia. Que exemplo de união e nobreza eles nos deram! 

Nos meses de junho e julho Pai Antônio e tio Riquinho faziam a moagem de cana, eu, Manoel e Zé Augusto, filhos do tio Luizinho  saiamos da Barra do Baixao e íamos para a Baixa Verde, la a gente tocava os bois em volta do engenho, me lembro que chamávamos os bois de Gigante e gibante, pertenciam a Osvaldo Oliveira, e um dia quando terminava de tirar as rapaduras da forma, pai Antônio rapou a a forma da rapadura, fez uma bola de rapadura mole e me ofereceu. No mesmo instante eu recusei dizendo que não gostava de rapadura mole. Ele disse: come corno, pois daqui uns dias você estará procurando rapadura mole e não acha. ( Muitos primos ja conhecem essa historia, mas os mais jovens não sabem, pai Antonio tinha o habito de chamar os meninos de corno, uma brincadeira graciosa de nosso tio.

Quando estive no Piaui em 1993 com Adinha, tive a oportunidade de conversar muito com o tio Cristovam de Melo, e ele me relatou uma historia interessante sobre o tio Riquinho. Nos, os netos de Birica, sabemos que nossos pais gostavam de uma cachacinha, todos sem exceção, e tio Cristovam me relatou que tio Riquinho so gostava de ir visitar um doente quando estava na hora derradeira, ou mesmo ja morto porque sabia que tinha uma pinga para beber. Tio Cristovam o chamou para ir visitar uma velha que estava muito mal, e nosso tio o perguntou se ela estava mesmo mal, ele afirmando que sim, tio Riquinho disse que ia, mas chegando na casa, ainda sem serem vistos, o nosso tio disse: Cristovam, essa mulher ainda não morreu, eu vou voltar, olhe, escute, ha um silêncio total, não escuto ninguém chorar; vamos voltar. Tio Cristovam o convenceu a ficar, mas essas historias me faziam rir; eu ficava até tarde conversando com esse sobrinho de vovó.

Nessas moagens de cana, moiam primeiro a cana de um dos irmãos, depois moiam a cana do outro, e tudo na mais perfeita harmonia, os dois irmãos ajudando um ao outro e os sobrinhos aproveitando a carona para comerem as puxas do melado da cana e mesmo beber garapa no engenho que era uma delicia.


Mensagem minha:

Primos, irmãos e sobrinhos, o meu resumo vai incompleto, pois sei que a vida de nossa avo da para se fazer um livro, oxalá um dia eu consigo essa proeza. Aproveitem o máximo da companhia de cada um, falo isso mais para os sobrinhos, porque nos os primos consideramos uns aos outros como irmãos, não imaginam ai Zé Augusto e Manoel a minha felicidade quando vi vocês no aeroporto na minha chegada em 2013. Sem falar na festa que fizeram para mim nas minhas duas viagens, e não vou ficar citando nomes para não me esquecer dos demais. E cada encontro com vocês primos, sinto uma amizade mais forte entre nos, que era o que fazia dos nossos pais pessoas unidas, virtuosas e decentes. Um grande abraço minha estimada família, que Deus nos abençoe como sempre o fez.