Friday, December 06, 2013

Soneto

Se me aparto de ti, Deus da bondade,
Que ausência tão cruel! Como é possível
Que me leve a um abismo tão terrível
O pendor infeliz da humanidade!

Conforta-me, Senhor, que esta saudade
Me despedaça o coração sensível;
Se a teus olhos na cruz sou desprezível,
Não olhes para a minha iniquidade!

À suave esperança me entregaste,
E o preço de teu sangue precioso
Me afiança que não me abandonaste.

Se, justo, castigar-me te é forçoso,
lembra-te que te amei, e me criaste
para habitar contigo o Céu lustroso!
(Marquesa de Alorna)

Saturday, November 16, 2013

Elegia latina - Tobias Barreto

Tandem jam superest tantum valedicere vobis;
Quando quidem cedo, stante magisterio,
quod finitum hodie nunquam mihi forte reduci
Possit, aliqui cadat sic literis dociles.

Formandi juvenes; quid ita? Certo grave munus
Commissum immerito parvo aliquando mihi.
Vellem, Discipuli, vobis qui repitis isthuc,
Ut possem sapiens, in rudibus tenebris

Lumen ego proeferre, erudiens itidem, et vos
Memet, adhuc video,viribus exiguis
Quam doceo; desunt autem magnae Sophiae mi
Principia, atque ideo jam cogor ad studium.

At vos licturus; desiderio madefit cor
Planctibus obiectis; ergo valete, Boni.
Semper ero, atque fui, inter amicos me numerate,
Vos qui pendo, dabunt tempora temperius.


Tal elegia o escritor escreveu aos 18 anos de idade quando encerrava o ano letivo e se despedia de seus alunos.

Sunday, September 15, 2013

Maldita folha Negra

Maldita Folha Negra
(Álvares de Azevedo)
Ah! vem, alma sombria que pranteias.
Por quem choras? Por mim?
Em vez de prantos
Deixa-me suspirar a teus joelhos.
Tu sim és pura. Os anjos da inocência
Poderiam amar sobre teu seio.
Aperta minha mão! Senta-te um pouco
Bem unida a minha alma em meus joelhos,
Assim parece que um abraço aperta
Nossas almas que sofrem. Revivamos!
O passado é um sonho¿o mundo é largo,
Fugiremos à pátria. Iremos longe
Habitar num deserto. No meu peito
Eu tenho amores para encher de encantos
Uma alma de mulher Por que sorriste?
Sou um louco. Maldita a folha negra
Em que Deus escreveu a minha sina .
Maldita minha mãe, que entre os joelhos
Não soubeste apertar, quando eu nascia,
O meu corpo infantil! Maldita!